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By Ferramentas Blog

"O ( meu) ténis português"



Pretendo com esta página explicar como foi a minha chegada a Portugal, em 1993. Qual foi e é a minha ligação com o ténis português e partilhar tanto as minhas experiências pessoais como a minha convivência com jogadores e treinadores. (Óbvio que não vou falar no sentido sentimental... senão teria de criar outro blog só para o efeito!). A minha real intenção é conseguir convidar e entrevistar as pessoas que foram importantes para mim, e quem sabe antigos e novos jogadores, tudo na esperança de abrir portas para quem hoje sonha com este desporto.

"Prefiro o sonho à ilusão: no sonho sabe-se que temos os olhos fechados; na ilusão julgamos tê-los abertos."
Condessa Diane

Tenho boas recordações de quando cheguei. Fui convidada para tomar conta de um clube, era muito trabalhoso mas gostava. Muitas foram as dificuldades, e muitos foram os apoios, que permitiram abrir uma brecha de céu azul, na tormenta que estava a viver. Não tanto por causa da situação financeira ou familiar, mas sobretudo pelo "despaisamento!". Recriar raízes num país que não se conhece e não nos conhece é difícil.

Este blogue também tem a ver  com os meus ídolos, os jogadores que passaram na minha vida, e esta página também com treinadores que ajudaram na minha formação e directores que me deram a mão. Lembro-me de muitas situações caricatas e para não me esquecer de ninguém não vou adiantar nomes. Gostava  de convidá-los a entrar no meu blogue através de uma boa conversa, de uma entrevista, da partilha de experiências vividas.

Luísa Gouveia ou "Nini"

Porquê a Luísa? Convivia com algumas pessoas da minha cidade e do clube de ténis onde trabalhava, mas, muitas vezes tinha de fazer "kilometros", para jogar torneios seniores pelo país fora. Não tinha sempre o apoio dos meus pais que ainda viviam em França. O que quer dizer é que ia pelo país fora, sozinha, jogar com jogadoras minhas desconhecidas. Sempre fui um "bicho do mato" portanto partilhar amizades com eles ou elas era tarefa impossível.

No entanto, num torneio na Figueira da foz, depois de muitas horas de caminho, num dia óptimo, ia jogar o meu 1º encontro com uma certa "Nini". Pago a inscrição e vou jogar contra ela. Ganhou-me, ( sempre) eu estava frustrada e fui para a minha cadeira um pouco sem saber o que me tinha acontecido. Aproximou-se de mim, disse que eu jogava bem, que nunca me tinha visto (pudera!) e no meio da conversa convidou-me a passar uns dias na casa dos pais à beira -mar, onde existia um campo de um pediatra famoso, e que se fazia lá um torneio amigável entre os residentes e convidados. Claro que a lagoa também era aliciante.

Fiquei espantada, pensei 2 vezes "estás a falar comigo?" " are you talking to me?". Disse lhe que sim... Este convite soou-me a uma mão dada e farta de me sentir só, estava pronta para a aventura. Conheci pessoas formidáveis com ela, fizemos viagens pelo país, sempre num clima amigável e festivo. mas quero destacar os seus pais no meio dessas pessoas . O Pai era muito reservado e a mãe uma delicia de pessoa. Eu que vinha do Ribatejo perdida no meio de tantas emoções, vivenciar estes momentos em família e amigos era como uma dádiva para mim. Guardo bem presente esta oferenda e lembro-me com carinho a facilidade de comunicação e o calor que recebi da sua mãe. Recordo-me de muitas situações e pode suar a gulosa mas não é o caso, recordo-me da sua tarte de natas e de lhe dizer que gostava de lhe retribuir o impossível; a sua simpatia e apoio. Mas, a vida nem sempre presta atenção a estes situações, e quando nos relembramos já é tarde. Por tudo isso, decidi colocar a Luísa Gouveia como 1ª nesta página e editar uma pequena entrevista que lhe fiz para este blogue que tem por nome a forma como ele me trata. "Chaparreira".

Entrevista : Luísa Gouveia.

Dia 1 de Outubro de 2010, uma hora avançada, estamos na minha casa num ambiente tranquilo. ( A minha diabinha tinha finalmente adormecido!)

Falo primeiro da era da Sofia Prazeres.

- AC: Quais foram os teus resultados contra a Sofia Prazeres, especificamente nos campeonatos nacionais?

- LG: Perdi sempre nas meias-finais quando jogava contra ela, 1 vez nos 4ºs, mas o último jogo que jogámos tinha sido renhido. ( A Sofia Prazeres apesar de ser muito mais nova do que a Nini retirou-se do circuito seniores muito antes). Continuei a jogar em seniores com boa classificação até os 39 anos, altura em que perdi os meus 1ºs 6/0-6/0  e aqui decidi jogar somente no escalão de veteranos. Até esta idade, desde a minha volta ao ténis, nunca baxei do 10º lugar ao nível nacional.(O que é obra!).

Pergunto acerca do seu percurso desportista, porque sei que ela sempre foi uma competidora nata.

-AC: Como foi o teu percurso desportista?

-LG: Comecei a ter aulas de ténis nas caldas, mas como na altura só havia 2 campos e eram preferencialmente marcados para os jogadores mais velhos e melhores acabei por desmotivar com o ténis. Nesse ano peguei pela 1º vez numa raquete de badminton no liceu e ao meu espanto ganhei logo o 1º torneio em todas as modalidades que participei: singular, pares mistos, pares femininos e  não perdi durante 2 anos. Só que, quando entrei para a faculdade, não conseguia conciliar o meus horários com o badgmington, os treinos eram durante as minhas aulas, o que me impediu de treinar no clube de marvila, (o melhor na altura), onde tinha sido convidada para jogar. Virei-me para o volei. Os treinos eram a noite por isso dava para conjugar com as aulas e os trabalhos. Treinava-se no I-N-E-F antiga F.M.H, e até cheguei a jogar com a Selecção Nacional de Volei. Claro que durante este tempo pratiquei outros desportos, bicicleta, futebol, onde sempre me senti bem. Tive sempre apetência para o desporto e surpreendentemente fui nomeada por Pedro Mil Homens, antigo colega de ténis das Caldas da Rainha onde comecei, agora  director do centro de treino de Alcochete do Sporting, como a melhor inteligência cinestésica de Portugal. No meio de tantos nomes foi a mim que ele escolheu! É uma honra estar o meu nome no meio de tantas personalidades do desporto e outras nomeadas com outras formas de inteligências *(1), como a comunicação etc...


-AC: Quando e  porque é que voltaste ao ténis?

- LG: O volei tinha começado a ser difícil de gerir porque tinha de haver sempre mais de 8 jogadores, e nem sempre se conseguia, portanto precisava de encontrar um desporto que fosse fácil de combinar, com poucos jogadores e que não era incompatível com o meu horário da faculdade. O ténis pareceu-me a escolha adequada ,são necessários apenas 2 jogadores. Desta feita voltei a jogar, no fim da faculdade com 21 anos mais ou menos, com treinos orientados pelo Prof Valério Couto*(2).

-AC: No entanto tiraste a licenciatura, mestrado e doutoramento em quê?

-LG: Tirei a licenciatura em engenharia química, o mestrado em ciências e tecnologia dos alimentos e o doutoramento em biotecnologia.

-AC: Quais foram os teus resultados mais importantes e mais satisfatórios no ténis?

-LG: Quando imperava a Sofia Prazeres consegui ter uma boa classificação ao nível nacional, atrás dela , da Joana Pedroso, da Tânia Couto e oscilava com jogadoras vindas de fora que faziam bons resultados em Portugal. Cheguei ás meias finais dos nacionais várias vezes. Ganhei torneios em seniores com "prizes-moneys", cheguei a ser nº 5 dos masters tmn quando se fazia este circuito ao nível nacional. Em Veteranos sou campeã nacional há 11 anos, somando os títulos de +35 com os de +45.

-AC: Sei que tiveste vitórias ao nível mundial e europeu?

-LG: Sim, ganhei o campeonato europeu em Baden-Baden em 2004 da ITF*(3), em 2006 em Alasyo na Itália ganho mais 1 etapa. Chego ao nº 3 do ranking mundial da ITF em veteranos em 3-08-2007. Nesse ano ganho em Menton na França e na Turquia. Ganhei 13 das 14 participações na Copa Ibérica. Joguei interclubes por um clube alemão. Gostei muito dos mundiais de amadores, em Monte-Carlo fiquei em 5º, em La Manga 1ª, na África de Sul por equipas ficamos bem classificadas, em Portugal em 2º e no Dubai fiquei em 1º lugar, e continuo visto que não houve mais nenhuma edição.

-AC: Como consegues conciliar estas provas com o teu trabalho?

-LG: Tiro férias na altura dos torneios, treino muito, agora mais de manhã, mas antes treinava na minha hora de almoço.

-AC: Quais foram e são as pessoas importantes para ti?

-LG: A minha mãe, acompanhou-me sempre quando podia, dando-me um apoio insubstituível, eu dizia: "vamos!" e ela estava sempre pronta, era um ombro no qual eu podia recarregar as minhas baterias, viajava muito comigo,  fomos o Dubai etc... Faz-me muita falta!... Tu chaparreira! quando jogávamos pelo país fora, íamos a todos os torneios. A Ana-Rita Ascenço com quem me tornei amiga,  jogámos, viajamos, até fizemos uma equipa para jogar na África do sul com a Isabel Costa. O meu colega de pares o To-Pé que vai comigo para todo o lado e o meu treinador actual o José Galante. O meu patrocinador de sempre Appleton Figueira, os meus amigos e  patrocinadores.

-AC: Que achas da Michele de Brito?

-LG: Joguei com ela pares, joga muito bem, acho pessoalmente que ainda tem uma boa margem de progressão, pode vir a ser uma grande campeã.

-AC: Quais foram e são os melhores jogadores para ti?

-LG: Nuno Marques nos homens; Frederico silva, é um jovem promissor das Caldas, treinado pelo Pedro Felner, tem tido óptimos resultados...

A conversa continuou pela noite fora, muito mais se disse mas quero realçar uma frase que penso resume a sua vida.

" Dediquei tanto tempo a este desporto que as minhas sobrinhas, com pena, dizem que não tiveram primos por causa do ténis!"

Eu digo que temos uma grande campeã entre nós, e espero por muito tempo...

*(1)http://www.scribd.com/doc/12900094/As-Inteligencias-multiplas-1
*(2)( Pai de 2 jogadores muito bem classificados da altura, ele inclusive trabalhava em parceria com  a Federação  Portuguesa de Ténis através dos cursos, seminários etc. Eu própria passei o curso de nível 2 com ele).
*(3)http://www.itftennis.com/seniors/news/newsarticle.asp?articleid=12158

Alfredo Vaz Pinto

Não posso passar para outras personalidades do ténis Português sem falar do Sr Alfredo Vaz Pinto.
Um nome que me estava completamente desconhecido, visto que eu era oriunda de um outro país e que vivia com as personalidades deste mesmo país. Personalidades míticas algumas delas, mas isso é outra questão.
Cheguei com a minha mala e instalei-me, em casa dos meus pais e em Santarém para o ténis, vinha com o nível 1 da "Federação Francesa de Ténis", chamava-se "Educateur Federal de 1º degrée".  Ainda havia muito para aprender. Agarrei-me à minha Associação e com muita ajuda foi-me sugerido fazer os cursos seguintes com a Federação Portuguesa de Ténis.
No curso de nível 2, encontrava-se alguns preletores, completamente desconhecidos para mim, mas muito importantes para o ténis nacional e no meio estava um antigo campeão nacional que agora jogava nos escalões de veteranos e que treinava também alguns jogadores: o Prof Vaz Pinto.
O sotaque que eu carregava assemelhava-se às dificuldades de entender todos os conteúdos relacionados com as temáticas lecionadas. Ainda ecoava no meu cérebro um léxico francês que eu moldava para traduzir as palavras arrematadas contra a minha cabeça. Mesmo assim passei e fiz neste ano de 1994 o 2º nível.
Este universo que se abria para mim, apesar de ser estranho, começou a fazer sentido e as paredes começaram a construírem-se à minha volta. Era uma treinadora no meio deles...
Lembro-me de querer conhecer mais algumas pessoas d´ ali e de querer aprofundar alguns conhecimentos com quem, como eu, vivia à sua maneira a mesma paixão pelo ténis, o Prof Vaz Pinto eram um deles.
O conhecimento dele do ténis Português era de tal forma amplo que quando o ouvia parecia abrir uma enciclopédia e banhava-me nela. Tentei que ele me desse aulas na altura para melhorar o meu ténis, mas era muito longe de onde eu vivia e não tinha os frutos pretendidos.
Mais tarde encontrei-me com ele para o homenagear no meu Blogue. Foi divinal saber todos as peripécias passadas por quem começou a desenvolver o ténis neste país. Falou-me da sua vinda para cá, dos seus campeonatos, da sua "Taça Davis" de como recensearam os campos existentes em Portugal, dos campeões que jogaram com ele, dos campeões que ele idolatrava e da sua família, claro.
Só posso agradecer o tempo passado e às pessoas que como ele engrandecem a grande família do ténis Português.